Valquiria ReyDe Roma
Trad. : Elisabete de Almeida
fonte - online
http://diplo.uol.com.br/2006-01,a1225
Presidente da Inf 'omg , biólogo, diretor de pesquisa do Instituto de saúde e investigação médica (Paris)
Abaixo a religião da Ciência
É hora de romper com o mito do Progresso herdado do Iluminismo. Ele impede de pensar que mesmo face à ciência e suas produções, os homens poderiam ser livres e iguais
Jacques Testart
A história de Lysenko, na URSS, mostra que as religiões não são os únicos poderes que reivindicam o controle da ciência e de suas produções
As religiões marcaram amplamente a história das ciências, recusando as ousadias da mente que contradiziam os dogmas construídos por elas. No caso da religião católica, não foi apenas por que ela triunfava no momento da irrupçao da ciência moderna? Que outro poder além da Santa Inquisição teria tido os meios para amordaçar Galileu e queimar Giordano Bruno [1]? Felizmente o desenvolvimento científico foi acompanhado do desenvolvimento da democracia nos países industrializados e Charles Darwin foi poupado.
Todavia, se as religiões não têm mais o poder de eliminar os sábios ímpios e as teorias sacrílegas, elas se refugiam com freqüência na interdição imposta aos seus fiéis e até a populações inteiras. Em muitos estados dos Estados Unidos, a Igreja reformada ainda exige que o ensino da teoria da evolução não seja privilegiado em relação ao relato bíblico. O ensino da física é amputado da teoria do big bang em inúmeros países onde a religião muçulmana é oficial. A igreja católica continua a opor-se por toda a parte à contracepção e à procriação assistida. E não se pode ignorar o fato de que o islã e o judaísmo persistem em instituir normas obrigatórias, em particular alimentares, cujos fundamentos não têm justificação racional alguma.
Mas a história de Lysenko e da pseudo-hereditariedade dos caracteres adquiridos, na URSS [2], mostra que as religiões não são os únicos poderes que reivindicam o controle da ciência e de suas produções. Efetivamente, todo poder instituído procura ou negar ou instrumentalizar a ciência, tanto ela influencia a vida espiritual e material dos cidadãos. É assim com o "socialismo científico" e com as "comissões científicas" de que se serve a maior parte dos partidos políticos.
Os poderes políticos europeus optaram por reconhecer na ciência a fonte privilegiada das verdades e riquezas desde que a proclamação dos Estados leigos emancipou o conhecimento e o domínio do mundo da tutela opressiva das ideologias irracionais. Mas daí não decorre automaticamente que a ciência tenha-se tornadao neutra e universal. Disso é testemunha a psico- rigidez que os notáveis da instituição científica mostraram, nestes últimos anos, em relação às raras proposições revolucionárias vindas de pesquisadores. Como por exemplo, para a teoria de Jacques Benveniste, não demonstrada até agora, sobre a "memória da água [3]" ou para aquela, depois coroada por um prêmio Nobel, de Stanley B. Prusiner sobre os príons.
Não é por uma ideologia, mesmo uma ideologia religiosa, que se institucionalizam as verdades do momento como imutáveis? Que padres intocáveis, guardiães do Grande Livro da Ciência, as defendem? Que se rejeita violentamente qualquer idéia nova, quando obriga a corrigir os dogmas que constituem os velhos paradigmas? O economista Serge Latouche mostra que o progresso é uma representação "auto-evidente" e quem, por isso, "sua emergência só pode ser contada sob a forma do triunfo de uma verdade luminosa eterna, presente, mas escondida e bloqueada pelas trevas [4]".
Não é por uma ideologia que se rejeita violentamente qualquer idéia nova, quando obriga a corrigir os dogmas que constituem os velhos paradigmas?
A fé dos otimistas
O fato é que o estado da ciência em cada momento é insuficiente para explicar situações complexas e prever seu desfecho. A incerteza das previsões mais peremptórias é demonstrada pela análise dita "científica" de situações de risco, já que as conclusões dos especialistas são qualificadas de "otimistas" ou "pessimistas" e não "verdadeiras" ou "falsas". A volta do subjetivo vem assim encerrar a proclamada objetividade do método científico.
Os otimistas têm para si um argumento imbatível: o pior não estará demonstrado enquanto não acontecer (e se for mesmo o pior, não será demonstrável a posteriori, por falta de analistas...). Mas esta opção não deve autorizar, por exemplo, a negação do efeito que as atividades humanas têm sobre as alterações climáticas. O mesmo aplica-se à disseminação dos transgênicos na natureza ou à poluição radioativa a partir da indústria nuclear. Não são esses fenômenos, racionalmente inelutáveis, que deveria provocar debate, mas só o tempo para que se tornem insuportáveis. O que a discriminação entre otimismo e pessimismo dissimula é, afinal, a fé. A fé que faz os otimistas acreditarem que o pior não pode acontecer, porque se encontrará uma resposta ainda inimaginável.
Pois o cientista, submetido ao catecismo da tecnociência, escolhe com freqüência a profecia em vez do rigor. A mais alta instância francesa no assunto, a Academia de Ciências, há vinte anos vem-se enganando pelo otimismo em relação a todos os riscos para a saúde: em relação ao amianto, a dioxina, a vaca louca, sem falar das plantas transgênicas. A cada vez, a Academia exaltou a inovação e condenou o obscurantismo proclamando que não se pode parar o progresso da ciência.
Ora, o "progresso da ciência" não é necessariamente o do ser humano, a não ser que se aceite que nosso destino seja regulado pelos interesses da indústria e da Bolsa. Como resultado do escandaloso relatório sobre plantas transgênicas [5], um debate parlamentar sobre eventuais conflitos de interesse na Academia foi solicitado sem sucesso pela associação Attac, mas os sortilégios dos acadêmicos contra o "obscurantismo", na ausência de verdadeiros argumentos científicos, mostram que se trata também de conflitos ideológicos. Foi a mercantilização da ciência que provocou seu dogmatismo missionário ou o inverso? Quando a tecnociência torna-se impunemente a fonte de artifícios potencialmente perigosos, seu poder-fazer revela e consolida a dimensão ideológica da atividade científica: a crença é então erigida em conhecimento exato e profundo. Não é exagero, então, considerar que certos aspectos da ciência vêm de uma atitude religiosa, o que não combina coma a racionalidade que reivindica [6].
O "progresso da ciência" não é necessariamente o do ser humano - a não ser que se aceite que nosso destino seja regulado pelos interesses da indústria e da Bolsa
Ciência e religião, estranhas identidades
Segundo o credo da ciência oficial, que se pode qualificar de mágico ou até de místico, mais cedo ou mais tarde tudo será explicado e esta explicação cobrirá a realidade inteira. Será possível superar as zonas obscuras e as contradições. Deste ponto de vista, pode-se notar o lugar privilegiado que os cientistas que acreditam em Deus ocupam na crença numa ciência todo-poderosa. Esses estão entre o mais devotos aos cientificismo, como para redimir-se por sua intimidade com o irracional. Ou então é sua mentalidade inamovível de crente que os leva a adorar o religioso que adivinham ver na ciência, se a crêem todo-poderosa?
O próprio cientificismo pode vir em auxílio da religião, como quando o futuro papa Bento XVI declarava, em 2000, para "cientifizar" sua concepção de ser humano: "De acordo com meus conhecimentos de biologia, um ser carrega dentro de si, desde o começo, o programa completo do ser humano, que em seguida se desenvolve [7]...". Ao considerar o genoma como programa, em vez de informação, o cardeal Ratzinger avaliza a ciência genética mais obtusa, sem se preocupar com o lugar da liberdade... ou da alma.
Enquanto o circo pega fogo [8], pode-se continuar a piorar as coisas estigmatizando os "obscurantistas", aqueles que em nome de um princípio da precaução timorato desejam controlar os avanços da tecnociência. O domínio político de um pretenso campo técnico justifica-se pelo fato de que, como diz Paul Virilio, a tecnociência é um desvio de grande amplitude do saber. No mundo cada vez mais incerto que construímos, o otimismo não deveria ser considerado um valor positivo, apenas um ressaibo pueril da crença que permite justificar a política do avestruz para mascarar uma atitude suicida.
A cada vez que se faz observar os riscos induzidos pela tecnociência, uma afirmação encerra toda veleidade de inteligência: "Não temos escolha"... Essa afirmação faz supor que a humanidade não seria livre para decidir seu destino. Quando, em nome dos "interesses próprios da ciência", os mais altos dirigentes do setor da pesquisa se mostram hostis ao princípio da precaução, deixam crer que existem atividades humanas cuja importância seria maior que a dos próprios seres humanos. Aos que imaginam que o reator nuclear ITER ou os vegetais transgênicos demonstram que estamos na época do "controle", pode-se opor que tais artifícios, cujas promessas aindas estão por vir, se inscrevem, ao contrário, na velha utopia [9].
E é certamente a mística do progresso e a crença em uma "providência laica" que permite aos interessados continuar nesse caminho com a consciência tranqüila, e aos outros não resistir de verdade: as pessoas submetem-se ao absurdo das decisões, ou da ausência de decisão, porque querem crer que o progresso é forçosamente bom e benéfico, que nunca se terá certeza do pior, que se encontrarão soluções, que "a ciência sempre encontra a maneira de reparar seus erros", etc. Uma tal disposição para a fé só vale ainda para a ciência, trágica negação do anunciado triunfo do rigor graças ao conhecimento científico!
Ao considerar o genoma como programa, em vez de informação, o cardeal Ratzinger avaliza a ciência genética mais obtusa, sem se preocupar com o lugar da liberdade... ou da alma
Concepção mágica de evolução
Ao lado da preocupação criminosa de apoiar a competitividade (das empresas, dos laboratórios, da região, do Estado...), correndo mais depressa que o vizinho para o precipício comum, uma razão menos trivial mas igualmente mísera explica a passividade das populações: a humanidade não pode sair perdendo se fortalece o progresso tecnológico. Essa é uma concepção mágica da evolução, deixando crer que, entre as espécies animais, a nossa seria a única capaz de mudar o mundo (o que é um fato real), mas também de controlar as mudanças que induz (o que ainda não foi demonstrado). O ser humano não seria apenas o bicho mais sabido hoje em dia, seria a criatura completa, concepção religiosa do mundo, de suas criações e de seu suposto arquiteto.
É talvez no campo da genética que esta crença é mais manifesta. Segundo duas sociólogas norte-americanas, "Assim como a noção da alma dentro do cristianismo forneceu o conceito arquetípico que permite compreender a pessoa e a persistência do eu, o DNA tomou, na cultura de massa, a aparência de uma entidade semelhante à alma, ou um objeto de adoração, santo e imortal, ou então uma zona proibida [10]. " Disso resulta que os próprios campos de aplicação dos conhecimentos genéticos são locais de mistificação, tanto para a terapia gênica quanto para os vegetais transgênicos.
O Téléthon [11] pode arrecdar em um dia cem milhões de euros (equivalente ao orçamento anual de funcionamento da pesquisa médica na França), fazendo acreditar que a cura das miopatias é apenas uma questão de meios financeiros. Quanto às culturas de vegetais transgênicos, que apresentam riscos ainda mal analisados para o ambiente, para a saúde pública ou para a economia, e não trouxeram até agora vantagem alguma para os consumidores, são impostas às sociedades humanas sob o pretexto de que suas vantagens virão, inelutavelmente.
Essa aposta de que "vai dar certo" supõe uma atitude cuja conclusão, forçosamente otimista, precede a demonstração - isto é, uma atitude não científica. Em 2000, o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin declarava, a respeito das células-tronco embrionárias: "Graças às células da esperança (...) as crianças imóveis poderão enfim movimentar-se, os homens e mulheres partidos poderão afinal reerguer-se [12]..." E por que não multiplicar os pães? A crença em tais milagres justifica até que se crie o impasse sobre a demonstração prévia da exeqüibilidade e da inocuidade graças à experiência animal. Seria possível mostrar que os avanços da indústria nuclear ou das nanotecnologias, por exemplo, escapam também tanto ao rigor científico quanto à democratização das escolhas da sociedade.
Como justificar que em bioética não existam "princípios" (ou ao menos referências nos sonhos ou nos valores), contrariamente ao que acontece para os direitos humanos, por exemplo? Por que uma proibição definitiva da escravidão e somente medidas temporárias (ou nada) contra a artificialização do ser humano, ou contra a eugenia consensual? Se for admitido que qualquer regra bioética será revista pelo conhecimento técnico, a ética passa a ser uma moral do destino. Porque reza pelo credo de progressos milagrosos e ilimitados, a ética utilitarista acaba sempre por vencer as reticências.
Michel Onfray, filósofo auto-instituído porta-voz do ateísmo, acha que deve apoiar "tudo o que, de perto ou de longe, contribui para construir técnicas indispensáveis à medicina pós-moderna: ectogênese, clonagem, seleção do sexo, transgenia [13]". Opõe-se, assim, ao que chama de "opção tecnófoba", argumentado que "a ciência como tal é neutra". Para chegar a essa certeza, ele precisou, no entanto, afirmar inverdades ("a energia nuclear jamais causou mortes...", a não ser Hiroxima e outros excessos que só se pode atribuir ao "delírio militar") e fazer passar gato por lebre como na sucessão das duas proposições seguintes, em que a hipótese se torna certeza: "A revolução transgênica permite pensar em novas formas de curar: elas evitarão, graças às medicinas preventivas, a irrupção das doenças..."
Assim como a noção da alma no cristianismo, o DNA tomou, na cultura de massa, a aparência de um objeto de adoração, santo e imortal - ou então, uma zona proibida
O fascínio tecnófilo pode fornecer substitutos fáceis aos mitos que se pensa combater. Então, cada vez mais, uma bioética de inspiração cientificista elimina a etapa de elaboração de princípios, porque eles trariam o risco de imobilizar uma situação contrária à dinâmica competitiva. A bioética dissolve-se no tempo como já se dissolveu no espaço ("daí o turismo médico") e na casuística (cede-se progressivamente, a partir de uma concessão justificada até à generalização de uma prática). A crença de que um mundo forçosamente melhor vai chegar graças à ciência impede interrogar para definir esse humanismo laico que falta à bioética. Dizer que "a ciência anda mais rápido do que a ética" quer dizer na verdade que a tecnociência passa à frente e domina as escolhas da sociedade.
Ciência, construção puramente racional?
A ciência não é esta construção apenas racional que idealizamos, imagem que a abriga das incursões da crítica. Instrumento forjado pelo homem, a tecnociência testemunha seu conhecimento e suas carências, e só opera pela libertação da espécie se soubermos conter sua falta de limites. Durante a Conferência Nacional da Pesquisa em janeiro de 1982, o então ministro da Pesquisa, Jean-Pierre Chevènement, sugeriu "fazer recuar certos preconceitos contra a ciência e a tecnologia, manter à distância os movimentos anti-ciência"... E englobava sob este último termo tanto as cartomantes quanto os ecologistas. Ora, vinte anos depois, as preocupações dos ecologistas mostram-se válidas e são objeto de relatórios alarmantes por parte da ciência oficial. No entanto, o cientificismo resiste: durante a Cúpula do Rio (1992) sobre o desenvolvimento sustentável, cientistas eminentes, entre os quais vários prêmios Nobel, lançaram o "Chamado de Heidelberg", contra "a emergência de uma ideologia irracional que se opõe ao progresso científico e industrial e prejudica o desenvolvimento econômico e social"...
O interesse dos industriais e de muitos pesquisadores é criar e divulgar inovações capazes de ocupar nichos de mercado. Esta motivação competitiva explica amplamente a mutação da ciência em tecnociência. Mas poderíamos ter esperado uma resistência dos cidadãos quando a ciência, força de emancipação, desvia-se para a produção de artefatos, muitos dos quais criam mais problemas do que os que resolvem.
Como demonstrou o historiador e sociólogo Jacques Ellul, "as leis da ciência e da técnica são colocadas acima das do Estado, e o povo e seus representantes ficam muito desprovidos de seu poder [14]". O cientificismo não é privilégio dos cientistas, é uma ideologia amplamente compartilhada pela sociedade, principalmente desde que à necessidade de crença faltam propostas críveis no campo da religião ou da política. A promessa mística do paraíso e a militante dos amanhãs que cantam perderam o fôlego enquanto o Progresso avançava com a nova sotaina da racionalidade.
Dizer que "a ciência anda mais rápido do que a ética" quer dizer na verdade que a tecnociência passa à frente e domina as escolhas da sociedade
Laicizar a relação com o saber
Sem outros santos a quem recorrer, os cidadãos modernos ficaram à espera das produções da tecnociência, sem mesmo imaginar que poderiam exigir a escolha do que os pesquisadores vão criar em seu nome. Aí está o primeiro passo a dar: já que existe tecnociência, é preciso ousar pensar que se pode incluí-la na democracia, como toda atividade humana (transparência, debate público, contraprova, racionalidade das escolhas, etc...) [15]. Como diz o físico Jean-Marc Levy-Leblond, "se no passado a Igreja condenou Galileu, agora, só tem a temer de seus sucessores um pouco de concorrência... Convenhamos que uma nova laicização de nossa relação com o saber deveria permitir um certo distanciamento em relação a todos os dogmatismos de hoje". [16]
A laicidade é o "princípio da separação da sociedade civil da sociedade religiosa, sem que o Estado exerça poder religioso nem as Igrejas poder político" (é saboroso constatar que o dicionário Robert ilustra esta definição com uma citação de Ernest Renan, aspirante a padre que se tornou cientista extremista...). Se concordamos em identificar na ciência "um sistema de crenças e práticas que implicam relações com um princípio superior, e próprio de um grupo social" (definição, no Robert, da palavra "religião") compreendemos melhor a proposta de Levy-Leblond para uma "laicização de nossa relação com o saber".
Recentemente, Bertrand Hervieu, ex-presidente do Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (INRA), declarou que "o processo de dessacralização, o fim dos absolutos transcendentais e o caminho da reconstrução da ciência em uma sociedade democrática e laica não estão terminados [17]". Nesta direção, pode-se exigir dos pesquisadores uma atitude mais humilde e preocupada com o bem público. É o que havíamos proposto com o Manifesto "Controlar a Ciência" (Le Monde, 19 de março de 1988), e é também o sentido do "Juramento dos sábios" proposto por Michel Serres em 1997. Mas do mesmo modo que o laicismo não se impôs somente com o enquadramento dos eclesiásticos, não é somente da atitude dos pesquisadores que a dessacralização da ciência depende.
Aí, como em outros lugares, a palavra-chave é democracia. Jacques Ellul lembrava o totalitarismo da técnica que nos faz entrar em uma lógica "tecnófaga" da qual não podemos mais sair, e temia que uma ditadura mundial acabasse por constituir "o único meio para permitir à técnica seu pleno desabrochar e para resolver as prodigiosas dificuldades que ela acumula. Recentemente foram abertas pistas para que as escolhas científicas não escapem mais aos cidadãos e para que os desenvolvimentos tecnológicos sejam conformes às necessidades expressas pela sociedade [18] .
Resta ajudar a sociedade a romper com o mito do Progresso herdado do Iluminismo. Ele impede de pensar que mesmo face à ciência e suas produções, os homens poderiam ser livres e iguais.
Notas
[1]Padre, Giordano Bruno choca-se com a hierarquia por causa do dogma da Trindade. Abandona a batina dominicana quando é formado um processo contra ele, para declará-lo herege, em 1576.
[2] Biólogo soviético, Trofim Lysenko (1898-1976) multiplica os ataques contra a genética clássica e opõe "ciência burguesa" (que seria ligada às práticas do capitalismo) e "ciência proletária" (que se apoiaria no materialismo dialético).
[3] Michel Schiff, Un cas de censure dans la science, Albin Michel, Paris, 1994.
[4] Serge Latouche, La méga machine, La Découverte, Paris, 2004.
[5] Lire Bernard Cassen, "OGM, des académiciens juges et parties", Le Monde diplomatique, fevereiro de 2003.
[6] Lire André Bellon, "Des savants parfois schizophrènes", Le Monde diplomatique, junho de 2002.
[7] "Le cardinal et l’athée", Le Monde, 2 de maio de 2005.
[8] "La maison brûle et nous regardons ailleurs...", discurso de Jacques Chirac na Cúpula do Desenvolvimento Sustentável, Joanesburgo, 2002.
[9] "Les utopies technologiques: alibi politique, infantilisation du citoyen ou lendemains qui chantent", Global Chance 20, Suresnes, fevereiro de 2005.
[10] D. Nelkin et S. Lindee, La mystique de l’ADN, Belin, Paris, 1998.
[11] Programa da televisão francesa que recolhe donativos do público para financiar a pesquisa médica. O nome é formado pela contração das palavras télévision e marathon. Acontece no mês de dezembro e é comandado por artistas e personalidades famosas. Começou em 1987, arrecadando 29 milhões de euros e no ano passado recolheu mais de 100 milhões (N.T.).
[12] Jornadas anuais organizadas em Paris pelo Comité consultatif national d’éthique pour les sciences de la vie et de la santé, 29 de novembre de 2000.
[13] Michel Onfray, Fééries anatomiques, Grasset, Paris 2003.
[14] Jacques Ellul, Le système technicien, Calmann-Levy, Paris, 1977.
[15] Nota n° 2 da Fundação Ciências Cidadãs (FSC), Paris, outubro de 2004 - http://sciencescitoyennes.org.
[16] La Pierre de touche, Gallimard, "Folio-essais", Paris, 1996.
[17] Agrobiosciences, Castanet Tolosan (31), setembro de 2004.
[18] Note de la Fondation sciences citoyennes (FSC), octobre 2004: http://sciencescitoyennes.org.
Um comentário:
Bom, para estimular os comentários: alguém concorda com tal atitude?????
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